Reflexão sobre Viver o Agora

Uma das coisas mais comuns atualmente é ver gente falando – ou melhor, postando – coisas do tipo “viver o agora”, “aproveitar o momento”, “curtir a vida”, “a vida é curta”.

Coisas desse tipo, que para facilitar a reflexão vamos sumarizar dentro do conceito único de “viver o agora”.

Mas a pergunta é: essa gente sabe o que isso significa, de onde herdaram essa ideia, e entendem as verdadeiras implicações na vida dessa forma de pensar?

Pelas minhas conversas e observações, essas pessoas não sabem nada sobre o que dizem.

Eu nunca conheci alguém que pregasse essa coisa de “viver o agora” e que soubesse me responder às três perguntas que fiz acima.

Isso, por si só, já diz muito sobre as pessoas e sobre as ideias que elas têm.

Sendo assim, vamos nos aprofundar agora nessa ideia.

A princípio, essa ideia de “viver o agora” soa como algo benigno e positivo para quem ouve.

A pessoa geralmente explica que se trata de algo assim:

“É importante viver o agora, porque nunca sabemos o amanhã. A vida é curta, e nunca podemos dizer se hoje será o último dia”.

Algo nessa linha – no geral, explicam dessa forma.

Parece bom, né? Positivo, fruto de reconhecer o valor da vida e de cada momento. Mas será que é isso mesmo?

A raiz do problema está na ruim interpretação de texto das pessoas. Analfabetismo funcional, talvez.

Elas confundem “viver o agora” com “viver no agora”.

“Viver o agora” pode muito bem ser algo positivo, com aquele sentido de nunca menosprezar o valor das experiências que temos hoje, e aprender com essas experiências.

“Viver no agora” – que é o que essas pessoas realmente entendem, praticam e querem dizer – significa viver com um total desprezo e despreparo para o que eventualmente poderá ser o futuro.

Entenderam a diferença gritante?

Relembrando brevemente o que já falamos em uma reflexão passada sobre o valor da jornada e do destino:

A chave da felicidade humana está em ter um objetivo grandioso eternamente no horizonte, derivado do mais alto bom possível, e em viver uma jornada de perseguição desse grande objetivo.

A ausência desse grande objetivo, portanto, também implica na ausência de uma jornada digna, e essa condição é traduzida na emoção humana de infelicidade.

Entendeu agora a armadilha terrível desse pensamento moderno de “viver o agora?”

Quem adota a ideologia de “viver o agora” imagina que esta ideia o conduz para uma vida melhor, mais significativa, mais bem vivida, e com mais liberdade.

Estão absolutamente enganados, porque “viver o agora” é justamente o que impede o ser humano de viver da única forma que comprovadamente o direciona para a felicidade.

É um dos males do relativismo: uma frase bonita parece te conduzir a algo digno e bom, quando na verdade representa justamente o oposto disso, e te empurra burramente para a infelicidade.

O que determina a felicidade do ser humano é a busca desse grande objetivo no futuro, e não a conquista do objetivo em si.

A busca (a jornada) é mais importante do que o objetivo (o destino).

“Viver o agora” aprisiona o ser no presente, desvinculado dos aprendizados do passado, e cego sobre as possibilidades do futuro.

Inevitavelmente, faz uma pessoa viver sem um grande objetivo no horizonte distante, e sem uma busca digna.

Os resultados de “viver o agora” são sempre ruins, e destroem vidas:

Filhos sem planejamento e sem estrutura familiar; sonhos interrompidos porque envolvem dinheiro, mas o dinheiro foi gasto “vivendo o agora”; vida intelectual inexistente, porque todo conhecimento só nos torna melhores no amanhã; agressividade e ódio por coisas pequenas, porque o passado e o futuro não importam, e o sentimento pequeno e mesquinho do agora é o que dita as regras de tudo para você e para todos os outros, de acordo com o que você sozinho diz sentir.

Coisas assim acontecem a cada dia com maior frequência. Todos nós temos algum (ou alguns) caso disso nas nossas famílias.

A causa é sempre a mesma: a pessoa afetada é aquela que mais prezava “viver o agora”.

Uma fez afetada, e com sua vida prejudicada, seus sonhos interrompidos, e seu destino agora não mais nas suas mãos, só resta uma pergunta – que raramente é feita:

“Você entendeu o resultado de viver o agora?”

A resposta, que nunca é ouvida porque quem diz cuidar, ou sofre do mesmo problema, ou simplesmente é irresponsável e não sabe o que é cuidar (e, portanto, a pergunta nunca nem foi feita), seria:

“Coisas assim acontecem. Faz parte, temos muitos exemplos disso na nossa família. Viver é isso.”

Não, me perdoe.

Viver não é isso.

Isso é o oposto de viver.

Isso é não saber viver.

Isso é “viver o agora”.

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