
A fé com o maior número de fiéis hoje no Brasil é a do egoísmo – a autoadoração que permite enxergar os outros e o mundo tendo a si mesmo como o ponto de partida inicial e final de tudo que acontece.
É uma doença, obviamente, e sendo uma doença esse egoísmo nada mais é do que um sintoma.
O que realmente importa é identificarmos a causa dessa doença.
Parte das causas vem certamente do niilismo. Quando Nietzsche estabeleceu que “Deus está morto”, e que nós coletivamente o matamos e, portanto, somos os maiores e piores dos assassinos e temos sangue nas nossas mãos que nunca será lavado, ele também estabeleceu que cada pessoa por si só poderia vir a ser uma nova personificação do novo deus.
A parte realmente interessante disso é que você precisa ler isso e entender isso para ter a moral de não crer nisso e se recusar a seguir por esse caminho.
O inverso também é real: basta você ser ignorante sobre isso que você tem boas chances de se achar um novo deus todo empoderado pelo seu egoísmo.
Em outras palavras: assim como em todas as outras armadilhas do pensamento, se tornar presa dessas armadilhas ou se livrar delas depende do seu conhecimento.
É uma outra forma de voltarmos ao tema da mente vazia ser o ofício do fracasso, talvez?
Mas em todo caso, o grande risco sempre mora no não saber, e essa ignorância é a base de onde surgem todos os males que o humano pode reproduzir – principalmente aqueles que ele entende fazer “pelo bem”.
Falando de egoísmo e ignorância:
Um filho é capaz de abandonar um pai que se dedicou a vida inteira a dar o melhor para esse filho, deixando de lado todos os seus desejos e vontades por décadas – ou seja, se sacrificando para que o filho tivesse o melhor.
Um filho é capaz de jogar fora o amor desse pai como se estivesse se desfazendo de um tênis velho, que serviu bem quando estava na moda, mas depois que a moda mudou perdeu seu valor.
Um filho é capaz de diminuir o seu pai a uma visão ignorante e deturpada do mundo baseada nas ideologias mesquinhas que a sua cabecinha fraca foi capaz de engolir sem questionamento, e classificar um homem – o seu próprio pai – como se fosse “todos os homens”
Um filho é capaz de menosprezar o amor do seu pai ao ponto de se permitir “dar chances” para o pai se adequar à sua visão egoísta e doentia do mundo antes de decidir eliminá-lo como se fosse um estranho que cruzou seu caminho.
O mesmo filho capaz de fazer todos esses atos diabólicos, também é capaz de se enxergar como o herói – e não o vilão que realmente é – e acusar o pai de abusivo sem ter a mínima moral de perceber que absolutamente todos os seus comportamentos como filho são abusivos, imorais, irresponsáveis, mesquinhos e de uma maldade que representa a personificação de tudo que há de diabólico nesse mundo.
Acreditem, existem filhos assim, que são capazes de fazer coisas como as que eu descrevi.
Não é nosso dever interferir e tentar remediar, porque gente assim terá uma vida justamente infeliz e sem valor, e essa vida desprezível ainda parecerá ser um luxo e um conforto perto do que terão que lidar no pós vida. Isso, por si só, arrancará o certo do errado.
Mas a lição de valor que fica para nós é aprender sobre essa doença, identificar seus sintomas e buscar as causas.
O que nos sobra é ver essas pessoas bem de longe, e aprender tudo o que nunca deveremos ser.
Voltando à questão inicial, agora entendemos que o egoísmo é sintoma de uma doença, e a causa dessa doença é a ignorância.
Mas, ignorância sobre o que?
Ao que tudo indica, é ignorância sobre o amor. É desconhecer o seu significado, e seguir vivendo achando que entende e é capaz de identificar o que é amor.
É chamar de amor o que é conveniente, e de abuso o que foi amor de verdade – aquele momento em que o pai chamou a atenção do filho para promover o melhor dele.
E para concluir, se egoísmo é o sintoma da doença causada pela ignorância sobre o que é amor, que nome podemos dar a essa doença?
Ira.
Um dos sete pecados capitais.
O desequilíbrio da emoção.
É o desejo exagerado de brigar com alguém, mesmo sem ter motivo para isso, guardar mágoa, rancor e buscar vingança – tudo isso sem perceber que o ódio apontado contra o outro, na verdade, nasceu de uma semente dentro do seu próprio coração e, portanto, diz mais sobre você do que sobre quem você decidiu odiar.
O que fazer sobre pessoas assim?
Primeiro, manter distância. Como já entendemos, esse ódio é um ódio cego, fruto do egoísmo e da ignorância, e, portanto, os tiros dessas pessoas podem sair para qualquer direção, sem muita habilidade ou inteligência.
Um aliado amável hoje será com certeza o novo inimigo odiado amanhã – é apenas questão de tempo.
E segundo, saber que se trata de um pecado capital, que trará a destruição da própria pessoa em vida, e algo muito pior após a morte.
Ou seja: já está tudo em plena ordem, é só manter distância e deixar o tempo cuidar.
Bem profundo!!
Bem verdadeiro.
Gostei demais dos seus pensamentos e direção.
💚💚
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