
Não sou um filósofo. Tenho conhecimento superficial sobre essas obras de filosofia. Não tenho a intenção de ensinar ninguém ou de promover a terceiros a minha interpretação dessas obras. O tipo de análise abaixo é o meu método pessoal de avaliar todos os livros que eu leio, independente do assunto que seja. Simplesmente deixarei registrado aqui, para mim e para vocês.
O que é a história?
Sócrates fazendo a sua defesa perante o tribunal que vai julgá-lo, acusado pelos crimes de corromper os jovens de Atenas e de crer em deuses diferentes do que aqueles da cidade – crimes pelos quais ele poderia ser sentenciado à morte. Sócrates acaba julgado culpado, e tem a oportunidade de se manifestar sobre qual deveria ser a pena adequada. Ao invés de fazê-lo, ele diz que mereceria os maiores prêmios que Atenas poderia oferecer a alguém. Ele é condenado à morte, e no final dirige uma mensagem a seus amigos que acompanhavam o julgamento, basicamente dizendo que ele foi julgado indevidamente por homens, e não pelas leis de Atenas.
Sócrates diz que trabalhou para espalhar a mensagem do oráculo de Delfos, que disse que ninguém era mais sábio do que ele, e que, portanto, a sabedoria humana é “inútil”. Por anos ele percorreu Atenas a desvendar a ignorância de homens supostamente sábios. Ao fazer isso, ganhou uma reputação desfavorável, que o enquadra como ímpio e filosoficamente contrário, embora ele esteja apenas trabalhando a serviço do oráculo de Delfos. Esse é o motivo pelo qual ele foi acusado de “corromper os jovens”.
Sobre a acusação de Meleto, de que ele não acredita nos deuses, Sócrates o questiona sobre a natureza de suas acusações. Embora Meleto diga que Sócrates não acredita em deuses, ele admite que pensa que Sócrates acredita e ensina “coisas espirituais”. Isso, aponta Sócrates, é uma contradição, já que Meleto finalmente admite que os espíritos são “ou deuses ou filhos de deuses”. Como tal, se Sócrates acredita em “coisas espirituais”, então ele também deve acreditar em deuses. Dessa forma, Sócrates mostra ao júri que Meleto o está acusando de não acreditar em deuses, ao mesmo tempo em que afirma que acredita em deuses. Tendo desenterrado essas inconsistências, Sócrates sugere que seus acusadores não se importam com corrupção e piedade. Em vez disso, eles simplesmente querem caluniá-lo.
Em seguida, Sócrates considera o fato de que ele pode ser condenado à morte. Isso não o incomoda, pois não sabe o que é a morte. Assumir que a morte é uma coisa ruim seria uma presunção de sabedoria sobre a qual não temos.
Sócrates reconhece que chegou a hora da sua morte. “Qual de nós vai para o melhor não é conhecido por ninguém, exceto pelo deus.”
Quais são os conceitos principais?
Sabedoria, piedade e fé – Sócrates defende que a verdadeira sabedoria envolve reconhecer a própria ignorância. Embora seus adversários o tenham acusado de usar sua aptidão para a investigação crítica para desestabilizar as estruturas convencionais de crença da cidade, ele argumenta que “o deus em Delfos” mostrou a ele que “a sabedoria humana não tem valor”. Quando Sócrates busca iluminar seus companheiros atenienses, eles pensam que ele está defendendo um conjunto de crenças completamente diferente. Na realidade, ele está tentando ajudá-los a entender melhor as coisas em que eles já acreditam, mas eles não enxergam isso porque assumem que qualquer nova perspectiva representa uma ameaça às suas visões de mundo fortemente mantidas. Dessa forma, Sócrates demonstra como as pessoas relutam em adotar novas formas de pensar, especialmente quando essas novas formas de pensar exigem humildade, investigação intelectual e autorreflexão genuína.
Integridade moral – Sócrates crê na preservação de seus padrões morais, e está disposto a sacrificar sua própria vida nome deles. Embora o júri o ameace com a pena de morte, ele se recusa a trair seus valores, usando sua situação infeliz como uma oportunidade para ensinar aos outros a importância da integridade moral. Ele demonstra sua confiança inabalável na maneira como vive sua vida, e prova que a verdadeira integridade moral significa agir eticamente não apenas como indivíduo, mas também como membro da sociedade.
Retórica, persuasão e a verdade – Sócrates enfatiza que não está usando truques retóricos para enganar o júri – ele simplesmente segue cada acusação até sua conclusão lógica, que muitas vezes contradiz alguma afirmação previamente estabelecida. Em vez de usar modos complexos de persuasão, ele foca diretamente em cada linha de pensamento para avaliar sua veracidade. Ao mesmo tempo, isso é em si um uso retórico inteligente, já que as investigações de Sócrates invariavelmente confundem Meleto e revelam sua falsidade. Ao contrário de seus detratores, Sócrates não tem segundas intenções, o que significa que sua retórica está a serviço de um bem maior, que tem a ver apenas com a descoberta da verdade. Sócrates sugere que o único argumento retoricamente sólido – e justo – é aquele que genuinamente se esforça para encontrar a verdade.
Democracia, julgamento e justiça – Sócrates sugere que a verdade – junto com o sistema judicial ateniense – não deve ser denegrida por enganos e vaidades. Ao mesmo tempo, ele sugere que “um homem que realmente luta pela justiça deve levar uma vida privada, e não pública”. Isso porque ele acredita que é quase impossível “sobreviver” como uma pessoa honesta enquanto participa de assuntos públicos, insinuando assim o fato de que, embora respeite a importância das instituições democráticas, ele não acha que Atenas foi bem-sucedida até agora em manter seus próprios padrões. No entanto, ele cumpre a pena do júri, demonstrando sua vontade de aderir ao sistema judicial atual, apesar de suas muitas falhas. Dessa forma, Sócrates prova que é possível criticar firmemente algo e, mesmo assim, acreditar no valor de tal coisa. Suas ações sugerem o fato de que críticas e desacordos são, na verdade, indicações de quanto uma pessoa se preocupa com o bem de algo, já que apenas aqueles que estão verdadeiramente comprometidos com uma determinada visão de mundo estão dispostos a se dedicar para examiná-la cuidadosamente.
Outras questões relevantes?
Em certo momento de sua defesa, Sócrates refere-se a si mesmo como um pernilongo, como forma de representar o fato de que suas investigações filosóficas são incômodas, mas necessárias à saúde moral de Atenas. Ele “desperta” a virtude deles, forçando-os a reconhecer suas próprias deficiências. Como tal, eles o veem como um incômodo, um inseto social que não os deixa em paz. Ao apresentar essa metáfora envolvendo o pernilongo, Sócrates lembra ao júri que seu comportamento aparentemente irritante acaba beneficiando a sociedade, forçando as pessoas a se esforçarem mais para incorporar a virtuosidade.
A critica construtiva sempre tem que vir de alguém que tem o próprio ego no controle, o conhecimento, a justiça e a consciência de assumir o feedback.
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Fantastico!!! Virtude!! Coisa raríssima hoje em dia!!! Muito feliz de ver sua leitura e o que ela me ensina. Love!!1
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