
Até mesmo os monges budistas mais bem instruídos e treinados pelas virtudes do pacifismo foram forçados a lutar em nome da proteção do que viam como bom.
Se aconteceu com eles, naturalmente acontece com todos nós, que vivemos vidas muito mais mundanas e sujeitas a conflitos com outros.
A lição que fica é sobre o valor e a necessidade de lutar a boa batalha em nome do que é bom.
É crucial saber diferenciar quais são as boas batalhas e quais são as batalhas vãs.
Encarar todas as batalhas como vãs e indignas de serem lutadas não é ser pacifista ou ter autocontrole – isso já se enquadra em ser omisso e trouxa.
Basta perguntar para a história dos que assim fizeram: alguma batalha que juravam ser vã acabou por eliminá-los do mundo. Sempre acontece.
Um dos grandes erros dos pacifistas omissos é agir com egoísmo sem perceber, achando que estão sendo bons e justos.
Explico com um exemplo bem comum hoje em dia:
Os pais estão brigando no que será o fim de um longo relacionamento. Um quer brigar e humilhar; o outro só quer ter paz e evitar conflitos.
Ambos estão igualmente possuídos por egoísmo, porque dentro das suas faltas de virtude (um cego pelo ódio e o outro por omissão) não pararam um minuto para avaliar a consequência das suas ações nas vidas dos filhos, que nada fizeram para ter que lidar com a insanidade dos pais.
Esse exemplo ilustra um momento óbvio em que o pacifista omisso se torna tão destruidor quanto àquele outro possuído pelo pecado da ira.
O resultado gerado tanto pelo ódio como pelo pacifismo é o mesmo.
O que sabe que age com maldade (possuído pelo ódio) está cagando para o impacto nos filhos; o que age com pacifismo pensa que só existe ele no mundo, e que sua sabedoria de paz lhe protege e lhe faz superior, sem cair a ficha de que a sua omissão tem um custo altíssimo para os filhos também.
É aqui que entra a importância de reconhecer o valor de lutar a boa batalha.
Para isso, é necessário abandonar o egoísmo e se colocar na posição dos filhos, e a partir desse ponto de vista julgar que o pacifismo omisso não é um bem, e sim algo ruim igual ao pecado da ira.
Não enfrentar alguém cego pelo ódio é ser conivente e igualmente responsável por todos os danos que esse ódio causará.
No fim, o pacifista omisso não será reconhecido como a pessoa boa e superior – vai ser somente um dos dois culpados, porque escolheu o egoísmo.
As batalhas realmente vãs e indignas de serem lutadas são aquelas baseadas em opiniões, em que pessoas divergem sobre questões subjetivas e nenhuma forma de discussão faria um ou outro ceder e concordar.
São também batalhas que, na prática, não prejudicam nem um e nem o outro – e muito menos, outras pessoas que nem fazem parte da batalha.
Nesses casos sim, o pacifismo age como virtude e faz o pacifista tomar o caminho mais elevado.
Mas nos casos de batalhas que têm sim um fim maior, e têm sim a possibilidade de prejudicar, e têm sim a certeza de afetar terceiros que são inocentes, aí o pacifismo é tão cego quanto ao ódio – não possui mérito algum.
“Ah, mas a minha alma estará em paz. Quem faz o ruim que colherá o ruim”, diz o omisso pacifista.
Não, isso é seu egoísmo falando. Quem se omite contra o mau não só colhe os frutos do mau, como também permite que o mau afete outras pessoas inocentes como dano colateral.
Ser um pacifista omisso em uma batalha contra o mau significa deixar as portas abertas e estender o tapete vermelho em homenagem ao mau, permitindo-lhe atacar e machucar quem quiser de forma impune e descontrolada.
Toda vez que o mau não é combatido ele se fortalece mais, e não há fim nisso – ele vai crescer e destruir mais e mais até alguém dar um basta.
Você quer ser cúmplice do mau e de toda a destruição causada por ele? Eu acredito que não.
O sangue nas mãos do pacifista omisso é exatamente o mesmo daquele que é mau e cego pelo ódio.
Esse é o valor da luta na boa batalha: é enfrentar o ódio do mau cara a cara, sem fugir, sem se esconder, e sem buscar outros subterfúgios para se omitir fingindo se engrandecer.
Quanto antes o mau é enfrentado e combatido, antes ele será derrotado e impedido de machucar você e os outros que não escolheram fazer parte da campanha de destruição.
Quanto antes ocorrer o combate, antes todos terão paz.
Quanto mais perder tempo, mais dano irreversível será causado – esse é o fim inevitável.
Muito bom mais uma vez essa sua reflexão Fernando. Trouxe à minha mente um versículo que alguém da minha família falava muito antes de falecer, que acho que é muito pertinente aqui: “Combati o bom combate, completei a carreira e guardei a fé”. Ou seja, uma jornada completa pensando em algo mais “alto” porém com lutas permanentes, mas chegando ao fim se sentindo um vencedor.
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A boa luta dá as mãos para a verdade e acontece firme para manter e construir o que é bom. Ótima reflexão para nos fazer concluir a respeito desse assunto.
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