
Fala galera!
Aos poucos eu vou fazer alguns posts por aqui com memórias da minha carreira no automobilismo, que começou em 1993 quando eu tinha 8 anos de idade e se encerrou em 2018 quando decidi fazer outras coisas da minha vida depois de tantos anos focado nisso. Esse aqui será o primeiro desses posts.
Depois de passar uns meses só treinando no kartódromo de Interlagos no segundo semestre de 1993, em 1994 eu e meus pais concordamos que seria legal fazer a primeira competição. A corrida era válida pelo Campeonato Paulista de Kart, e eu fui inscrito na categoria Cadetes – que é a categoria de entrada, somente para crianças. Não sei se ainda hoje é assim, mas na época era.
O Campeonato Paulista de Kart era o mais competitivo campeonato estadual do Brasil, e vários meninos bons do Brasil inteiro também participavam. Sempre tinham mais de 20 ou 25 meninos competindo, era uma época boa demais para o kartismo do Brasil. Eu sabia que não tinha chance alguma de pegar um pódio na primeira corrida, mas também não sabia muito sobre como as coisas fluiriam, então fui com a mente totalmente aberta e sem cobranças. Essa corrida foi uma das poucas da minha vida em que o meu foco era puramente em diversão.
Agora, me pergunta se foi divertido? Nem um pouco!
Foi um fim de semana de dilúvio em São Paulo. Não parou de chover um minuto de quinta-feira até domingo. O treino classificatório era no sábado pela manhã, e a corrida no sábado à tarde. Só chuva, do tipo que a pista ficava cheia de poças de água, não dava para enxergar nada direito… uma zona! Mas esse não era o problema real: o grande problema era que eu nunca havia feito um único treino na chuva!
Interlagos ficava a mais de uma hora de distância da minha casa. Eu treinava duas vezes por semana, terça e quinta-feira, no período da manhã. À tarde eu ia para a escola, no Mackenzie de Higienópolis. Em dias que chovia, eu simplesmente não ia treinar, porque o tempo de chegar de casa até Interlagos quase que dobrava, e não dava tempo de treinar e voltar para a escola sem atrasar. A prioridade era a escola, então eu simplesmente não treinava quando chovia. Faz sentido? Olhando para trás, não. Só que a gente precisa lembrar que ninguém da minha família – incluindo eu mesmo – pensava que essa coisa de competição viraria algo realmente sério. Até aquele momento, era mais um hobby que me divertia e que queimava a minha energia, e eu finalmente ficava mais quieto em casa e meus pais conseguiam ter um pouco de paz. Então a visão sobre tudo aquilo era de um hobby mesmo, uma diversão, e quem é que vai viajar quase duas de carro atravessando São Paulo na chuva para ter um dia de cão se molhando inteiro no kart e depois correr para a escola? Puta passeio de índio – acho que essa expressão é censurada hoje em dia, mas vou usar porque eu sempre falo assim. Enfim, eu não treinava quando chovia, e acabava me divertindo fazendo outras coisas em casa mesmo.
Mas muita coisa mudou nessa minha primeira corrida, com o dilúvio que caía em Interlagos.
Parecia que eu nunca havia sentado no kart antes. Não sabia nada que eu estava fazendo. Os caras mais experientes me passavam, eu tentava acompanhar, e sempre dava errado. Não aprendi muita coisa na prática, mas percebi que tinha muito o que aprender se eu quisesse brincar de competir com aqueles meninos.
Eu não me lembro que posição larguei, e nem que posição terminei a corrida. Eu lembro que terminei a corrida melhor do que havia começado, porque tinha noção de que estava perdido, e por isso fui com bastante cuidado, super conservador. Outros meninos que também não sabiam nada sobre pilotar na chuva saíram doidões como se soubessem alguma coisa, e eu passei todos eles, geralmente batidos em alguma barreira de pneus. Eu terminei a corrida. Não rodei nenhuma vez. Só fui indo aos poucos, super lerdo, e terminei intacto e com um resultado que eu fiquei feliz e meus pais também. Só que o mais marcante foi o choque de realidade: para brincar disso e me divertir, eu vou ter que achar divertido ir treinar na chuva também!
Essa primeira corrida de kart, além de ser super relevante por ter sido a minha primeira, marcou um passo importantíssimo no que viria a ser a minha carreira: ela me fez ver o kart pela primeira vez como algo maior do que um hobby ou uma diversão. Se eu quisesse transformar aquilo em alguma coisa, eu precisaria ver o kart como uma competição, um esporte. Eu saí do kartódromo naquela tarde de sábado, todo molhado carregando meu macacão ensopado, determinado a virar um piloto completo, que incluía ser top na chuva – ou seja, sem consciência do que isso significava, naquele dia eu passei a ver as competições como algo maior, algo que eu estava disposto a me dedicar para fazer com maestria. Isso mudou a minha vida.
Very cool!
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Dylan Rees
São Paulo â Brasil
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Que bacana Fernando! Parabéns!! …Diante de um super desafio na chuva , você visualizou o teu futuro ….e fez isso com determinação e profissionalismo!!
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Que legal Fernando. Do jeito que você escreve, dá até pra ver o que estava acontecendo.
E que lição né? A gente tem que olhar mesmo onde precisamos melhorar, se é que a gente quer chegar a algum lugar.
A-DO-REI seu post.
Espero os próximos.
Grande beijo.
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Obrigado pelo compartilhamento Fernando. Muito bom saber como iniciou sua trajetória no Automobilismo!
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