
Inspirai, ó Deus, as nossas ações, e ajudai-nos a realizá-las, para que em vós comece e para vós termine tudo aquilo que fizermos. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.
Para o post de hoje, vamos falar do significado de “Israel”.
Parece ser um tema óbvio e sem possíveis incoerências; mas isso passa longe da realidade. A coisa mais comum de se encontrar atualmente são cristãos desinformados sobre esse tema, e pregando e defendendo causas que ofendem a Deus e contradizem a própria fé em Jesus Cristo. Conheci muita gente piedosa, inteligente e sábia que, sobre esse tema especificamente, têm conhecimento limitadíssimo. Sendo assim, me senti motivado para abordá-lo cuidadosamente aqui. Pretendo no futuro me aprofundar mais sobre esse tema em outros posts.
Alianças são a base de tudo
A base de todo o conhecimento do plano de salvação de Deus está na compreensão das Alianças por Ele estabelecidas com a humanidade.
O relacionamento de Deus e Sua orientação para com Seu povo sempre foram realizados através do estabelecimento de Alianças subsequentes. Temos a sequência de Alianças do Antigo Testamento (que, aliás, significa literalmente “a antiga Aliança”), onde Deus reivindica para Si, inicialmente, um casal (Adão e Eva), depois uma família (com Noé), depois uma linhagem (com Abraão), e finalmente Jacó é renomeado como Israel, introduzindo esse nome na história da salvação. A partir desse ponto, Israel se torna a referência central para aqueles que estão em relacionamento direto com Deus como Seu povo escolhido, e que recebem Sua orientação através de profetas e novas Alianças. Esse relacionamento, do início ao fim, sempre se expande, incluindo cada vez mais pessoas: de inicialmente apenas um casal (duas pessoas) a um reino unido, e, no final do Antigo Testamento, uma nação inteira.
Essa relação de Israel com Deus, através das Alianças, chega à sua forma final no Novo Testamento (ou “a nova Aliança”), através de Jesus Cristo, cumprindo as promessas feitas a Abraão de que todas as nações seriam abençoadas através dele, e abrindo esse relacionamento direto com Deus para todas as pessoas, judeus que aderirem à Nova Aliança e gentios que aderirem à Nova Aliança, através de Jesus Cristo – todos unidos como um.
Dado isso, “Israel” tem, desde o princípio, sempre estado associado àqueles que pertencem a Deus como Seu povo, sempre estabelecido por uma Aliança de Deus, e que a última e final Aliança é aquela estabelecida por Jesus Cristo, o único Filho de Deus, tornando assim os cristãos (aqueles que participam da última e final Aliança com Deus) o verdadeiro e final Israel, por todos os tempos.
Em outras palavras: os cristãos são Israel por toda a eternidade desde a última e final Aliança estabelecida com a humanidade por Deus, através de Jesus Cristo; os cristãos são o povo escolhido de Deus, a nação santa de Deus, o povo que pertence a Deus. Aos olhos de Deus, portanto, não existe outro “Israel” que não seja a nação cristã, até o fim dos tempos.
O relacionamento de Deus com Seu povo se desenrola progressivamente através de uma série de Alianças, cada uma construindo-se em direção à Aliança final e universal em Cristo. Essa sequência de Alianças destaca o propósito imutável de Deus de estabelecer um povo para Si, uma nação santa, vinculada pelo amor e pela fidelidade, embora cada etapa antecipe uma realização mais plena e inclusiva em Cristo.
Agora, vamos estruturar esse contexto mais profundamente, examinando cada Aliança, o papel de “Israel” na história da salvação, e como isso culmina na Igreja como o “verdadeiro Israel”.
- A Sequência de Alianças e o Povo de Deus em Expansão
As Alianças do Antigo Testamento revelam uma pedagogia divina: Deus expande progressivamente Sua família da Aliança, atraindo cada vez mais pessoas para um relacionamento com Ele.
- A Aliança Adâmica: A primeira Aliança começa com Adão e Eva, o primeiro casal humano, que é chamado a estar em comunhão direta com Deus (Gênesis 1:26-28). Embora essa Aliança inicial seja rompida pelo pecado original, o propósito de Deus de redimir a humanidade começa aqui, com a promessa de que a “semente” da mulher esmagará a cabeça da serpente (Gênesis 3:15). Esse “protoevangelho” sugere um futuro povo de Deus restaurado.
- A Aliança Noética: Após a corrupção generalizada da humanidade, Deus estabelece uma Aliança com Noé e sua família, marcando um novo começo para a humanidade (Gênesis 9:1-17). Aqui, Deus estende Sua promessa de Aliança para incluir uma família, significando um relacionamento em expansão entre Deus e um coletivo maior.
- A Aliança Abraâmica: Deus então estabelece Sua Aliança com Abraão, escolhendo sua linhagem para trazer bênção a “todas as nações da terra” (Gênesis 12:1-3; 15:5). Essa Aliança forma o alicerce do povo de Deus, pois os descendentes de Abraão receberão a terra de Canaã e serão um povo dedicado a Deus. A promessa de Deus de abençoar todas as nações antecipa o alcance universal da Aliança final.
- A Aliança Mosaica: Através de Moisés, Deus estabelece Israel como Sua “nação santa” e “reino de sacerdotes” no Monte Sinai (Êxodo 19:5-6). Israel é chamado a ser distinto das outras nações, e a obediência à Lei torna-se a marca do relacionamento da Aliança com Deus. A Aliança Mosaica formaliza o conceito de “povo escolhido”, com Israel explicitamente nomeado como o povo de Deus.
- A Aliança Davídica: Finalmente, Deus promete a Davi uma dinastia eterna, da qual surgirá um rei cujo reinado durará para sempre (2 Samuel 7:12-16). Esta Aliança introduz a ideia de um Reino Messiânico, apontando para um governante futuro que estabelecerá uma Aliança eterna com o povo de Deus, unificando-o em um só reino.
- Israel como Povo Escolhido e Sua Missão
Com Jacó (posteriormente renomeado como Israel), o conceito de “Israel” torna-se central, representando aqueles que Deus escolheu especificamente para dar continuidade à Sua Aliança. Israel se torna o protótipo do povo de Deus, simbolizando uma nação chamada a modelar santidade e devoção a Deus em meio a um mundo de idolatria e pecado. Os profetas chamam repetidamente Israel à fidelidade, alertando que a infidelidade resultaria em punição, mas com a esperança de restauração eventual. Os profetas, especialmente Isaías, preveem uma época em que as nações adorarão o Deus de Israel, antecipando uma Aliança mais inclusiva (Isaías 2:2-4; Jeremias 31:31-34).
- O Cumprimento da Aliança em Cristo e o Novo Israel
A vinda de Jesus Cristo cumpre as promessas feitas em cada Aliança anterior. São Paulo escreve em Gálatas 3:16 que as promessas feitas a Abraão foram finalmente cumpridas em Cristo, que une judeus convertidos a Cristo e gentios convertidos a Cristo em uma única e definitiva Aliança com Deus. Essa Aliança não está mais limitada pela linhagem étnica ou por fronteiras geográficas, mas está aberta a todos os que creem em Cristo.
- Jesus como o Novo Israel: Cristo personifica Israel perfeitamente, vivendo a fidelidade que Israel não conseguiu manter. Ele é o “servo” de Deus, trazendo justiça às nações (Isaías 42:1; Mateus 12:18), e por Sua morte e ressurreição, Ele estabelece uma nova Aliança, que inaugura a Igreja como o novo e verdadeiro Israel. Segundo o Catecismo da Igreja Católica (CIC 877), “a Igreja é o novo Povo de Deus”, reunido pela fé e pelo batismo na vida de Cristo.
- Cristãos como o Verdadeiro Israel: São Pedro identifica explicitamente a Igreja como “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus” (1 Pedro 2:9), uma linguagem originalmente usada para Israel no Antigo Testamento (Êxodo 19:6). Desta forma, a Igreja herda a identidade e a missão de Israel. Santo Agostinho, em sua obra “A Cidade de Deus”, reafirma que a Igreja é o verdadeiro Israel, a continuação espiritual e o cumprimento das promessas de Deus ao povo da Antiga Aliança, expandindo o povo de Deus para abarcar toda a humanidade.
- O Povo Universal de Deus e a Aliança Eterna
Na Nova Aliança, a distinção entre judeu e gentio é superada, pois todos são unidos em Cristo (Efésios 2:14-16). O “Israel de Deus” (Gálatas 6:16) agora se refere àqueles que vivem pela fé em Cristo, como São Paulo explica que nem todos os descendentes físicos de Israel são realmente Israel, mas sim aqueles que são filhos da promessa (Romanos 9:6-8). A Igreja é, portanto, a culminação de todas as Alianças, reunindo a plenitude da humanidade na família eterna de Deus.
Conclusão: O Israel Final
A Igreja é de fato o verdadeiro Israel. Através do batismo, os cristãos são trazidos para a última e eterna Aliança, tornando-se o povo escolhido de Deus para a eternidade. Esse entendimento sublinha que o nome “Israel” sempre significou o povo de Deus, com cada Aliança aproximando a humanidade de maneira progressiva para a família universal de Deus em Cristo.
O Diálogo com Trifão, de São Justino Mártir, enfatiza essa ideia ao afirmar: “Nós, que fomos conduzidos a Deus por meio deste Cristo crucificado, somos o verdadeiro Israel espiritual,” confirmando que a Igreja, pela sua união com Cristo, é o Israel final, cumprindo tudo o que foi prefigurado nas alianças com o Israel antigo. Portanto, a Igreja, como o Corpo de Cristo, representa o Israel final e completo, unido eternamente a Deus em Cristo.
Portanto, não existe outro Israel senão a Igreja, fundada através da Aliança final e eterna estabelecida entre Deus e a humanidade através do nosso Senhor, Jesus Cristo; não existe outro Israel senão a nação cristã. Israel não é uma linhagem genética; Israel não é um país.
Para um cristão, negar que Israel se refira exclusivamente a nós cristãos, a nós que recebemos a proposta da Aliança final e eterna e nos consagramos a ela, segundo a vontade de Deus e a lógica da Sua história da salvação, é uma ofensa a Deus.
Então, sugiro lermos mais, estudarmos mais, e usarmos mais o dom da razão que nos foi presenteada por Deus precisamente para esse uso: para entendê-Lo e O servirmos de acordo a Sua vontade.
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