A Linha do Tempo da Bíblia: História da Salvação (Parte 1)

A Linha do Tempo da Bíblia: História da Salvação (Parte 1)

Encontrando o seu lugar dentro das Escrituras Sagradas

A minha intenção:

Pretendo fazer uma longa série de posts em forma de um estudo bíblico, usando como inspiração e referência o curso “The Great Adventure Bible Timeline” oferecido pelo Jeff Cavins no website da Ascension Press – quem entender inglês direitinho, eu recomendo demais comprarem o curso. Eu achei tão impactante e bem elaborado que decidi fazer a minha parte na divulgação deste trabalho oferecendo uma versão em português. Tudo o que eu fizer de bem-feito aqui é porque o curso do Jeff Cavins é excelente; o que eu fizer de mal-feito é porque o meu conhecimento não me permitiu ainda fazer melhor.

Qual é a proposta?

Ler a Bíblia e ter conhecimento das narrativas é uma coisa; entender o que a história está lhe dizendo, compreender que não se trata de um livro sobre outras vidas, mas sobre a sua, e aprender qual é a sua posição como personagem da narrativa é onde reside o verdadeiro valor de possuir, ler, e meditar sobre as Palavras de Deus.

Quanta gente lê e até memoriza passagens bíblicas inteiras, mas não faz nada além de usar este conhecimento como exemplos de outras vidas para aplicar no seu dia a dia, na sua vida? O que eu sinto que geralmente falta é o entendimento que nós somos personagens dentro destes livros também, que seguem abertos, e nós estamos neste exato momento participando da mesmíssima narrativa, no prosseguimento da linha do tempo da História da Salvação.

Existe uma única História da Salvação. Ela começa com o Antigo Testamento, onde estabelece o que está em jogo em nossas vidas; evolui com o Novo Testamento, que abre o Reino dos Céus para todos os povos e revela tudo o que estava antes camuflado em símbolos no Antigo Testamento; e persiste hoje na Igreja, sem novas revelações, porque nós já possuímos todas as informações necessárias para entender o que está em jogo, como proceder, e o que pode nos auxiliar e nos dificultar em nossas missões. É tudo uma única História da Salvação, uma contínua linha do tempo, que começa com a criação do mundo em Gênesis, e chega até hoje com você.

A proposta, portanto, é facilitar o entendimento da História da Salvação, para que você não apenas tenha fé e conheça passagens das Escrituras, mas viva a todo o momento sabendo que um daqueles personagens é você na sua vida hoje, e que o seu livro está aberto.

Uma história e um plano para você

A Bíblia é o livro mais vendido do mundo – o melhor best-seller. Agora, isso não significa que é o livro mais lido do mundo. Todos nós conhecemos gente que tem a Bíblia em casa; menos comum do que isso é ver gente que tenha a Bíblia e a leia todos os dias. Provavelmente existem mais Bíblias como objeto de decoração do que como fonte de leitura. As Palavras de Deus estão ali dentro, mas parece que a maioria tem dificuldade de acessá-la – e não é por falta de posse dos livros.

Um dos motivos que leva a isso é que é tudo muito complexo – são 73 livros, centenas de personagens, nomes estranhos, lugares distantes, muitos eventos marcantes misturados com muitíssimos nada marcantes, etc. Nesta época em que vivemos a gratificação instantânea de tudo, em que até vídeos de um minuto se tornaram longos demais, temos a dificuldade adicional de a maioria das pessoas estarem se treinando diariamente em não ter mais atenção e nem o conceito de uma gratificação que venha por esforço, sacrifício e merecimento – todo mundo quer tudo aqui, agora e rapidinho. Neste caso, a Bíblia fica fechada mesmo, porque as Palavras de Deus não são da mesma qualidade de vídeos do Tik Tok, e exigem um ser humano superior e com a devida dedicação para apreendê-la.

É importante destacar neste início que a Bíblia não é um livro – é uma biblioteca, uma coletânea de 73 livros. No meio destes 73 livros existe uma história; uma única história, do início ao fim. O desafio é: como é que extraímos esta história destes 73 livros, e nos situamos dentro dela?

Histórias fazem parte da vida humana. Todos nós temos nossas histórias – histórias de família, experiências de vida, memórias, sonhos, etc. Todos nós temos uma história para ser contada, e todos nós vivemos buscando outras histórias também – mesmo que seja passando uma hora como um zumbi mexendo no Tik Tok ou Instagram, não deixa de ser uma busca de histórias. Isso acontece porque o ser humano foi criado desta forma, absolutamente dependente de uma narrativa – de uma história, de um plano.

A primeira boa notícia é que nós temos esta história e um plano para a vida toda, e ela foi doada a nós diretamente por Deus: “Deus, infinitamente perfeito e bem-aventurado em Si mesmo, num desígnio de pura bondade, criou livremente o homem para o tornar participante da sua vida bem-aventurada. Por isso, sempre e em toda a parte, Ele está próximo do homem. Chama-o e ajuda-o a procurá-Lo, a conhecê-Lo e a amá-Lo com todas as suas forças. Convoca todos os homens, dispersos pelo pecado, para a unidade da sua família que é a Igreja”. (Catecismo da Igreja Católica, Prólogo, I.1)

Ou seja: Deus tem um plano. E este plano, criado para todos nós, está escondido dentro destes 73 livros que chamamos de Bíblia.

A proposta aqui então é resgatar este plano de dentro das Escrituras e apresentá-lo de uma forma clara, objetiva e manifesta para que nós possamos viver esta história e este plano, e orientar as nossas vidas de acordo com a única narrativa que merece a nossa dedicação diária: a História da Salvação.

Sobre começar a Bíblia, mas nunca terminar

Quem nunca comprou uma Bíblia novinha, um caderno para anotações, canetas marca-texto de diversas cores, e estabeleceu o plano de ler a Bíblia de capa a capa e aprender todo o seu conteúdo? E quem nunca começou a fazer isso, com toda a dedicação e motivação, e dois meses depois desistiu? Esta é a coisa mais comum do mundo!

Por que isso acontece? Porque a pessoa se perde da narrativa – a história escapou. No meio de qualquer filme, mesmo que seja no cinema, se a história perder o sentido e você não souber mais o que está fazendo ali, você se levanta e vai embora no meio do filme. O mesmo acontece com todos os tipos de livros – se você perder o trilho da história, você fecha o livro e busca outro. Esta é uma forma de agir natural do homem, porque nós dependemos de histórias, e se uma história perder o sentido nós precisamos buscar outra que ofereça algum consolo. Pessoas não tem paciência para histórias que não fazem sentido.

Em outras palavras: a história contida em meio aos 73 livros se perde, e a pessoa não sabe mais como é que a narrativa foi parar ali. Isso geralmente acontece quando se chega no livro de Levítico, no terceiro mês de leitura. Quando a história é perdida, a motivação também desaparece, e a missão de ler e entender a Bíblia é abandonada.

Mas isso é um problema, porque como escreveu São Jerônimo, “a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo”, e nós somos convocados por Deus a entender as suas palavras, a história que está em jogo, e o plano que Ele criou para todos nós. (Catecismo da Igreja Católica, 133). Desistir da Bíblia é desistir do único plano que devemos manter nos nossos horizontes pela vida toda!

Não se lê a Bíblia de capa a capa

O problema de se perder da história vem de as pessoas pensarem que a Bíblia é um livro – como falamos anteriormente, trata-se de uma biblioteca de 73 livros! A Bíblia parece um livro, porque tem a capa dura por fora e as páginas dentro com uma determinada ordem de capítulos, mas ela não é um livro. Sabendo disso, a Bíblia não é um material que você deve lidar como se fosse um livro qualquer, que começa na primeira página e termina na última.

Eis a chave do problema: os 73 livros da Bíblia não estão em ordem cronológica. Ler tudo de capa a capa nunca vai fazer sentido, porque a história contida ali dentro não se desenvolve de capa a capa. Ler a Bíblia de capa a capa é pedir para se perder da narrativa, e este erro tão comum só acontece porque nós pensamos na Bíblia como um livro, sendo que na realidade estamos falando de 73 livros ordenados de uma forma não cronológica. De fato, como veremos mais para frente, alguns dos livros que pertencem cronologicamente ao início estão encapados lá próximo ao fim (os livros dos profetas do Antigo Testamento). É como se você cortasse um filme de duas horas em pequenos trechos de dez minutos, o remontasse fora de ordem, e começasse a assistir desde o início – daria para entender a história, ou você se perderia na narrativa?

A ordem dos livros dentro da Bíblia foi determinada por gêneros de literatura, e não pela cronologia dos eventos. Os livros históricos estão todos juntos; os livros de poesia estão todos juntos; os livros de literatura de sabedoria estão todos juntos; os livros dos profetas estão todos juntos; os evangelhos estão todos juntos; as epístolas estão todas juntas. A ordem dos livros, portanto, é determinada pelo gênero literário, e nada tem a ver com a cronologia dos eventos.

Então a Bíblia parece com um livro, tem capa como um livro, tem páginas como um livro, tem cheiro de livro, mas não é um livro. E se você decidir ler como se fosse um livro, você prova o fato de que não se trata de um livro, porque a história logo desaparece e você se perde dela.

Encontrando a história nas Escrituras

Chegamos finalmente ao ponto mais importante até então: a metodologia que deve ser utilizada para ler a Bíblia, na ordem mais adequada, e não se perder da narrativa. Afinal, dentro daqueles 73 livros nós temos um plano de Deus para a nossa peregrinação neste mundo, e extrair esta história e este plano da Bíblia é o que há de maior valor para a nossa salvação. A história de Deus é acessível para todos. Ele quer ser conhecido por você. Ele quer que você saiba as palavras dele. Ele tem um plano para você, e tudo está contido nas páginas da Bíblia.

Como partiremos de algo tão grande e complexo, e chegaremos a algo sucinto, ordenado e que não perde a história de vista?

O primeiro passo da metodologia é dividir a história contida na Bíblia em 12 períodos. Sairemos da complexidade dos 73 livros não-cronológicos e chegaremos a 12 períodos que se seguirão cronologicamente nos revelando a História da Salvação. Os 73 livros estarão divididos cronologicamente dentro dos 12 períodos.

O segundo passo é separar dentre os 73 livros aqueles que são narrativos daqueles que são complementares. É isso mesmo: a maioria dos 73 livros é complementar da narrativa, e não fazem parte do avanço da história. Este é outro motivo pelo qual ler a Bíblia de capa a capa nunca daria certo: além de não estarem em ordem cronológica, apenas alguns dos livros avançam na linha do tempo da narrativa, enquanto a maioria serve de leitura complementar para cada estágio da narrativa. São 14 livros narrativos, que são a leitura obrigatória da Bíblia, que carregam a história do início ao fim. Esses sim são os livros que devem ser lidos em ordem, mas dentro da Bíblia eles estão misturados no meio dos outros 59 livros. Ler os livros complementares de acordo com a cronologia dos livros narrativos lhe oferece a história inteira com todos os seus detalhes, inclusive dos personagens coadjuvantes; mas ler os livros complementares fora da ordem da narrativa só irá lhe confundir e lhe impedir de compreender a história.

Isso significa que você consegue aprender toda a narrativa básica da História da Salvação lendo apenas os 14 livros narrativos na devida ordem cronológica de acordo com os 12 períodos estabelecidos no curso, sem se perder no caminho da história.

Paralelamente, iremos posicionar adequadamente os 59 livros complementares também dentro dos 12 períodos cronológicos, para que você tenha a opção de incluí-los na sua leitura também. Para ler a Bíblia inteira, esta é a única forma.

É assim que se aprende a História da Salvação como ela está contida na Bíblia, e esta é a forma que nos previne de cometer um erro terrível e tão comum: escolher versículos e citá-los sem contexto. Quem lê a Bíblia “de capa a capa” e, portanto, fora da narrativa, tende a escolher versículos e utilizá-los indevidamente justamente porque leu a Bíblia na ordem errada e os versículos estavam fora de contexto. Agora, lendo a Bíblia como ela foi criada para ser lida, nós não cairemos mais neste erro, e saberemos corrigir aqueles que fazem uso desta artimanha.

Conclusão desta parte

Acredito que tudo tenha ficado claro antes de darmos início nesta longa série de posts: a minha intenção, a proposta dos posts, o problema, a solução, e a metodologia que transforma o problema em solução.

Eu espero que este esforço lhe ajude não somente a ler a Bíblia, mas também a meditar sobre a história e estudar. Eu espero que você passe a enxergar as Escrituras de um novo ponto de vista, sempre atento à continuidade da história e ao plano de vida que Deus criou para você. Eu espero que, acima de tudo, você se familiarize com a história maravilhosa de Deus, dentro da qual você pertence, sabendo disso ainda ou não; que você se familiarize com a voz de Deus contida nas Escrituras, porque quando você aprende a ler a Bíblia, você aprende que Deus está se revelando para você, em palavras e em atos. Desta forma, você chegará a um novo relacionamento com Deus baseado em uma nova e mais aprofundada compreensão sobre quem Ele é, o que Ele espera de você, e qual é a narrativa em que você se encontra dentro neste exato momento, vivendo neste livro aberto.

E por fim, que você não termine pensando: “como eu sei muito mais agora!” Mas, diferente disso, humildemente, você pense: “Deus, como eu lhe entendo melhor agora, muito obrigado! Agora, é a minha vez de lhe responder.” E é aí, neste momento, que a sua vida muda.

No próximo post:

No próximo post, pretendo revelar os nomes dos 12 períodos cronológicos da narrativa da Bíblia, que mencionei acima, e já adentrar na leitura e estudo do início da História da Salvação no Antigo Testamento.

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