Sobre pedir e receber de Deus

“Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto. Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, abrir-se-á”. (Mateus 7:7-8)

Estes versículos acima sempre me fazem pausar a leitura do Evangelho e refletir sobre o que Jesus Cristo está nos dizendo. Por um lado, parece ser algo extremamente simples – o que você quiser, basta ter fé e pedir, e você receberá. Por outro lado, sabemos que não é assim que a realidade funciona, e não é isso que Ele quis dizer com estas palavras – contexto é tudo!

Logo antes, Ele nos diz:

“Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem roubam. Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração”. (Mateus 6:19-21)

Portanto, Jesus Cristo está nos dando a dica, com as mais claras das palavras, sobre o que nós devemos pedir e receber, buscar e achar – as coisas da alma, do espírito, que vivem nesta peregrinação mundana e na eternidade espiritual. São estes os “tesouros no céu” que devemos pedir e buscar, porque “onde está o teu tesouro, lá também está teu coração”.

Isso se aplica não só para o nosso relacionamento com dinheiro e posses materiais, mas a tudo: nossos pensamentos, nossas palavras, nossas ações. Para a pessoa incontinente que busca o prazer das comilanças, o seu deus é a sua própria barriga – é onde está o tesouro dela. É a comilança e “encher a cara” para aquele envenenado pela luxúria e incontinência; são as festas e baladas para aquele envenenado pela lascívia; é a caça do sexo por simples prazer para aquele envenenado pela concupiscência. Em outras palavras, como perfeitamente disse São Pedro: “eles mesmos são escravos da corrupção, pois o homem é feito escravo daquele que o venceu”. (2 Pedro 2:19)

De fato, quem vive buscando “se divertir” e colecionar “prazeres pessoais” é um escravo de si mesmo, e é por isso que pessoas com esta debilidade vivem vidas piores do que os pets bem cuidados que tanta gente tem em casa nos dias de hoje – que algumas pessoas, com ainda menos noção sobre o sentido da vida, chamam até de “filho” ou “filha”, os “pais” e “mães” de pets. Pense comigo: se para uma pessoa o sentido da vida se resume a um ciclo de três acontecimentos: 1) trabalhar para ganhar dinheiro; 2) usar este dinheiro para cobrir todas as necessidades básicas de sobrevivência; 3) usar o restante do dinheiro para “se divertir” e colecionar “prazeres pessoais”. Então, com relação às pessoas que vivem assim, qualquer animal domesticado tem uma existência superior: as vacas leiteiras conseguem o ponto número dois (as necessidades básicas de sobrevivência) sem depender de trabalho; os cachorrinhos fofinhos que temos em casa recebem os pontos dois e três (as necessidades básicas de sobrevivência e “se divertir” e colecionar “prazeres pessoais”) também sem trabalho. Agora, será que o homem foi criado por Deus para viver uma vida que é inferior aos animais que o próprio homem domesticou? Nada contra oferecer boas vidas aos cachorrinhos fofos, é claro – mas devemos viver abaixo dele em nível de valor de existência?

Eu creio que, não importando o baixo nível de entendimento sobre as coisas da vida, ou a ausência absoluta de um sentimento de valor pessoal que alguém possa sentir, não é possível que, ao refletir sobre isso, a pessoa decida que “sim, eu amo viver uma vida sem valor e menos importante do que as vacas leiteiras e os cachorrinhos fofinhos”. Espero não estar enganado sobre isso, mas algo me diz que ninguém diria tal coisa em santa consciência. Mesmo quem não tem um pingo de amor e respeito por Deus ainda se valoriza o suficiente como pessoa para ficar incomodado com esta descrição da sua vida.

Escrevo tudo isso para voltar com a devida contextualização à passagem inicial de São Mateus: “Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto”. Está claríssimo o que devemos pedir, o que devemos buscar, e em qual porta devemos bater durante esta peregrinação mundana que chamamos de vida. Não são as coisas deste mundo, que alimentam os prazeres do corpo unicamente – são as coisas da vida eterna, que alimentam os prazeres da alma, por toda a eternidade.

Mas agora vem a parte mais interessante: como devemos pedir e buscar estas coisas?

A instrução de Jesus Cristo conforme documentada por São Mateus nos deixa claro que devemos viver em constante atividade de pedir e buscar. É o absoluto oposto de pedir em oração e aguardar passivamente pela realização do pedido. Jesus nos quer em ação, em movimento, nos dedicando na busca das coisas que realmente importam. Veja que uma parte do diálogo vem de nós: pedir, buscar e bater na porta. A resposta sempre vem de Deus: o recebimento do pedido, do que se busca, e a abertura da porta. Ou seja: tudo depende deste diálogo, onde nós tomamos a iniciativa e fazemos por merecer, e Deus nos responde com a entrega que merecemos. Não devemos nunca cair naquela fé fraca de que “basta insistir em pedir que Deus lhe dará”, porque isso é justamente o que Jesus Cristo está nos orientando a nunca fazer. Muito menos devemos agir desta forma pedindo coisas mundanas – por isso Jesus deixou bem claro, logo antes, que os tesouros mundanos pouco importam, e que toda a vida mundana deve ser dedicada à arrecadação de tesouros celestes, que são eternos.

Tudo isso nos conduz de volta para o senso de destino: se a vida de alguém está enraizada neste mundo, e tudo o que ela produz ou consome é mundano, então o destino desta pessoa há de ser mundano – tudo começa e acaba aqui, com a morte e o enterro de volta à terra. O que Deus deseja é que o nosso senso de destino aponte para o Reino de Deus, onde a vida e os tesouros são para sempre. É por isso que pedir e buscar depende de nós, porque nós naturalmente nos dedicamos durante a jornada da vida àquelas coisas que nos conduzem ao destino que traçamos.

Então saiba que quando você pede, busca e bate na porta no seu dia a dia, se por ventura você não recebe o que pede, não encontra o que busca, e a porta permanece fechado, a única explicação é que você está pedindo e buscando coisas que Deus despreza, e batendo na porta errada, onde Ele não habita. Você pediu errado, buscou errado, e errou de endereço. E quantas vezes pessoas não rezam e oram pedindo pelas coisas erradas? As coisas que Jesus foi claríssimo em nos avisar, logo antes, que são futilidades – as coisas desta vida: dinheiro, reconhecimento, saúde para continuar vivendo errado, etc.

Nós já temos todas as respostas que precisamos. Não há nada que ainda deve ser dito ou explicado. Sabemos o que devemos pedir; sabemos o que devemos buscar. E sobre a porta em que devemos bater, Jesus nos orienta nos versículos seguintes, para que não haja dúvidas:

“Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram”. (Mateus 7:13-14)

“Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado”. (Mateus 6:31-34)

Afinal, em qual porta você está batendo e esperando que algo de bom aconteça?

Deixe um comentário